Enquanto dormes

Aqui estou. Sozinho no silêncio de mais uma noite. Cada tecla que primo soa como um martelo. Fere a quietude que me envolve. Macula a doce paz de respirações pausadas que muitos disfrutam de momento. Hora estranha para escrever, esta. Demasiado cedo para que os fantasmas me assaltem. Demasiado tarde para que alguém note a ausência de vento nas ruas. Um carro que passa. Uma prova de que algures o mundo ainda vive. Mãos cansadas que rumam a casa. Tudo calmo de novo. Poderia ouvir uma gota de água cair no chão. Sentir na pele as minúsculas vibrações que o seu beijo provocaria na terra. Talvez pudesse, não fosse o matraquear que produzo, que se torna ensurdecedor a esta hora. Torna-se urgente que deixe de ser perturbador. Que pare de misturar sons ásperos nos sussurros que agora devem dominar. Vou parar. Vou ficar à escuta. Escutar até que me perca. Até que me encontre.