5:35. O despertador resmunga como se houvesse um incêndio.
Ela emite uma série de suspiros e apalpa às cegas até o calar.
Ele acorda e ainda estremunhado, rasteja até ao computador.
Ela nem sequer se move e continua deitada. Enquanto o computador zune e
blipa,
Ele vai à casa de banho com um olho aberto e outro fechado. Apesar das possiblidades, nada é vertido fora de sítio. De volta ao computador, o brilho do ecrã fere-lhe os olhos. O site da
ana apenas diz que a aterragem está prevista para as 5:35. Neste momento
Ela aparece, e como não há nada de concreto anúncia que o despertador foi regulado para as 6:10. Voltam para a cama.
Ele não consegue adormecer de novo.
Ela quase consegue. 5:57.
Ele levanta-se e dá uma nova espreitadela ao site. O avião aterrou às 5:51.
Ele vai ao quarto e diz-lhe para se levantar.
Ela move-se em câmara lenta, mas eventualmente levanta-se. Enquanto se vestem, o telemóvel toca. "Estou?", proclama
Ela, um pouco alto de mais para a hora em curso. Após uma breve troca de palavras, desliga. "Estão à espera das malas", diz
Ela.
Ele fica pronto primeiro como é habitual, e vai engolir um iogurte, que de tão gelado fere-lhe a garganta ainda convalescente da constipação.
Ela finalmente está pronta também, e como é um pouco menos doida, resolve trazer um iogurte para beber no caminho. Como num sonho, flutuam até ao aeroporto. Engraçado como na estrada apenas circulam camiões. Na sala das chegadas, cruzam-se com gente doente. Sim, porque aquele tom de pele, nesta altura do ano, só pode ser doença.
Ela avista os pais, que finalmente são libertos daquela porta que solta sempre toda a gente menos quem se aguarda. Também eles vêem doentes. Por fim
Eles despertam um pouco, e conseguem perceber que toda aquela gente colorida vem de países mais quentes nesta altura do ano. Altura de partir, e de
Ela ir cumprir o ritual de abrir as malas com a mãe e ver as surpresas que por lá vêem. Já em casa dos pais d
Ela,
Ele e
Ela, bebem um café e lá conseguem acordar. As surpresas foram boas como sempre.
Ela vai para o trabalho em seguida, com a sensação de horas de sono a menos.
Ele como só vai trabalhar à tarde, vai para casa com a certeza de não voltar a adormecer mesmo que se deite, e com raiva por estar constipado, pois não pode aproveitar a manhã para ir surfar.